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É tudo por nós, filha

28 semanas ___

Tenho vontade de secar com hortênsias as lágrimas de todas que carregam vida no ventre.

Beijar suas barrigas com lábios de amora madura.

Preparar chá gelado de hortelã e capim limão e aninhar seus pés em almofadas de algodão-céu.

Massagear pés, panturrilhas e coluna com óleo de sementes de paz e soprar em seus ouvidos, com hálito de Ísis: você sabe de vocês.


Que ao gestar,

"não" tem potência de espinho e crítica arranca rim.


Lágrimas vêm pra desaguar o que nem sabemos sentir, mas sentimos.

Não sabemos como fazer, mas fazemos.

Não sabemos proteger e protegemos.


Se mãe é leoa, gestante é

.

.

.

Queria falar do poder de gerar vida e da abertura-sensível de sentir pelo universo que cabe dentro.

Mas não chegou palavra.


Ao gestar, algo se perde entre o útero e a boca.

O que é estranho, que o útero tem sido corpo todo.

Menos a boca.

Como dar contorno para um corpo-universo em expansão?


O corpo todo não cabe na palavra.

Aliás, são dois corpos.

E até hoje, só soube palavrear d'eu.


Ainda não somos duas e já não cabe só eu em nenhum lugar.


Na palavra.

Na calça.

Na cama.

No banho, pensamento, emoção.

Na lágrima.

No desejo.

Na palavra.


É tudo por nós.


Ainda não conheço as letras onde cabem nós duas.

Talvez por isso ainda não saiba seu nome.


Quando escrevo sobre nós, margem se faz e pitacos não atravessam.

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