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os caminhos se abrem quando você dá passos em verdade interna



Na semana passada, comemoramos a Páscoa na tradição cristã e Pessach, na tradição judaica, na qual nasci e estive inserida por grande parte da minha vida.


Pessach é a comemoração da libertação do povo hebreu do Egito. Uma festa sempre comemorada na lua cheia no signo de Áries, na qual eu nasci. É a celebração com a qual mais me identifico, com sua natureza abridora de mares e caminhos, cheia de ensinamentos sobre liberdade e escolhas alinhadas com a sua verdade.

Para você acompanhar meus questionamentos e paralelos entre Pessach e nossa própria escravidão interna, vou resumir muuuuito a história. Sem entrar no mérito se tudo isso aconteceu ou não, te convido a ler como uma metáfora. 


Em 1446 a.C., o povo hebreu era escravo no Egito, comandados pelo Faraó, o dirigente da época na região. Moisés, hebreu, recebe o chamado divino de liberar seu povo do Egito e enfrenta o Faraó, que se recusa a libertar os escravos, até que Deus lança as famosas 10 pragas e o Faraó dá o braço a torcer. O povo sai pelo deserto em busca da Terra Prometida e, nas margens do Mar Vermelho, avista o exército egípcio chegando em arrependimento da libertação. Moisés escuta novamente a voz de Deus e o mar se abre para que o povo passe. Demoram 40 anos até que  finalmente chegassem à terra prometida.


No Egito, o povo hebreu trabalhava como escravo, mas sua alimentação, moradia e descendência eram garantidos. O que mais poderiam querer? Qual é a medida de insatisfação que precisamos atingir para sairmos da zona do conforto? 


A ideia de peregrinar pelo sol do deserto por sabia se lá quantos anos era muito pouco agradável.


Diz-se que somente 20% do povo hebreu escravo peregrinou com Moisés. Os outros 80% escolheram permanecer escravos.  A “escravidão-conforto” pareceu mais convidativa do que a “liberdade-incerteza”, sem saber do amanhã, sem certeza de seu futuro, sem nenhuma confirmação de que sua libertação seria bem-sucedida. Sem saber se de fato veriam a terra prometida, ou sequer se ela era realmente prometida. 40 anos com a cabeça queimando durante o dia, os dentes tremendo durante a noite. 40 anos de estômago inquieto, de boca seca e olhos cansados. 


Quando, pela primeira vez em quatro séculos, os hebreus provam o gosto da liberdade, reclamam da sede e do calor. Inclusive pediram a Moisés que os levasse de volta ao Egito. 

A liberdade é um estado mental difícil de se assumir depois de anos de escravidão. Depois de gerações abaixando a cabeça para ordem alheias, alimentavam a crença era de que eram vítimas, sem capacidade de criar a própria realidade. 

Com a gente é parecido. Parece mais fácil criticar o “sistema” e o “capitalismo” e com isso legitimar e perpetuar uma lógica que não nos faz sentido. Mas, na prática, o que fazemos para criar uma outra realidade?


Será que é mais fácil ser escravo, vítima, do que assumir a responsabilidade por seus problemas? 


A geração que saiu do Egito não chegou ao destino final. Só a nova geração adentrou Israel.

Segundo interpretações dessa passagem da Torá (com a Bíblia judaica), não é à toa que o povo demora 40 anos para chegar ao destino final. Era necessário um outro estado mental para se chegar a uma terra sagrada e construir uma vida nela, um estado mental realmente livre, pois a liberdade sem consciência pode resultar na troca de uma prisão por outra. 


Sair da “prisão capitalista” e entrar em qualquer outra que pareça ser “a nova solução absoluta”. Não há verdades absolutas nem soluções que funcionem para todos. Cada um de nós é único e precisa de condições específicas para florescer em potência. 

Vejo pessoas pedindo demissão de um emprego pois não aguentam mais ter um chefe que define metas irreais e, na hora de empreender seu próprio negócio, é um chefe ainda mais carrasco para si mesmo do que o chefe externo. A liberdade independe das condições externas. A liberdade é uma escolha interna, uma maneira de estar no mundo.


Ao mesmo tempo, sim. Muitas vezes precisamos romper com uma maneira de viver sem termos ainda clareza de como criar uma nova realidade. Mar Vermelho em hebraico é Yam Suf. “Suf” vem de “sof”, que quer dizer fim ou extremidade. Quando atravessou o mar vermelho, o povo hebreu deixou para trás uma era não só de escravidão, mas de conformismo. 


Vejo que ficamos tão preocupados em olhar para o que estamos deixando para trás, com medo do arrependimento (representado pelos egípcios correndo pelo deserto) que não fazemos como Moisés e decretamos que o mar há de se abrir. Ou ainda, ficamos olhando para trás e não percebemos que há diversos mares abertos a nossa frente. 


Quantas travessias deixamos de fazer por medo de não conseguirmos chegar ao outro lado?


Há de se confiar nesse chamado interno, na voz divina dentro que diz: vai, deixa essa história para trás. Tenha firmeza de fazer o que precisa ser feito e confia, o mar há de abrir quando você caminha em verdade interna.

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