Na última semana precisei responder àquela temida pergunta: “qual é sua profissão?” três vezes.
Temida porque me dá um trabalhão respondê-la.
Demoro segundos pra abrir a boca em resposta. Penso. Um misto de tensão e curiosidade do lado de lá. As sobrancelhas se movem. Eu rio, meu olhar adentra em mim, em busca uma resposta verdadeira e atualizada, que represente o que venho fazendo no mundo naquele momento.
A cada dia, uma resposta, num misto do que é verdade pra mim, do que eu imagino que a outra pessoa queira saber quando me pergunta, de um chute do repertório que ela tem e do quanto eu estou disponível pra explicar caso ela não entenda.
/ estou comprometida em ser eu
/ estou impulsionadora de propósitos
/ ajudo pessoas a se devotarem a seus propósitos de vida
/ atendo pessoas individualmente e dou vivências sobre propósito
/ faço tanta coisa, difícil explicar… trabalho com autoconhecimento
/ estou facilitadora
/ sou autônoma
/ me formei em jornalismo.
(sentindo incômodo de que nada disso reflete integralmente o que faço)
Comumente a pessoa pede uma explicação, e, depois de me ouvir, eu escuto um “ah, você é coach!”.
Meu coração se aperta e, caso não esteja disponível pra elocubrar sobre porque não me considero coach nem qualquer outra coisa que me encaixote, eu digo “é, meu trabalho inclui coaching”. Que meu fazer precise ter uma definição esvazia a constante transição na qual ele está. Tudo é retrato. Nada é. Tudo está.
Pensar no que faço como uma profissão me parece reforçar a separação entre quem sou e o que faço, porque não é sobre minha profissão, é sobre uma maneira de enxergar e de estar no mundo.
Escutei uma vez da Carla Ferro que “não é que eu sou escritora, é que eu escrevo.” A gente fala de sair da caixa mas se sente perdido sem ela e sai correndo em busca de teto, chão e paredes.
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