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Sobre a força do propósito



Crédito: William Mattos


A escolha de fechar a Casa Sou.l como espaço físico e seguir com a empresa de forma itinerante em 2014 trouxe impactos inicialmente perturbadores. Havia muitos custos financeiros envolvidos e o pagamento dos educadores que haviam compartilhado saberes nos mês anterior ficou comprometido. Eu não conseguiria remunerá-los no prazo combinado. Eram pessoas que eu admirava, muitos deles amigos e referências pra mim. A ideia de comprometer a vida financeira deles era devastadora. 


Mas era a realidade.


Como eu poderia lidar com a realidade de uma maneira da qual eu me orgulhasse no futuro? Como colocar em ação os aprendizados vividos a partir das trocas com aquelas pessoas? Como me vulnerabilizar sem me vitimizar?


Como poderia responder a essa situação de uma forma bonita?


Liguei pra cada um deles e falei a verdade. Abri meu coração, justificando o desgaste emocional e físico que a casa tinha em minha vida, falei sobre como estava sendo difícil e necessário tomar essa decisão e perguntei como seria para eles receber não naquele mês, mas no seguinte. 


Eram cerca de 12 pessoas.


Todas elas responderam algo do tipo: “Carol, o trabalho que vocês estão fazendo cria o mundo que eu quero viver. O propósito da Casa Sou.l cuida de mim em tantos níveis que vocês podem contar comigo para o que precisarem.”


Todas as pessoas toparam receber num prazo estendido e algumas inclusive doaram sua remuneração para cobrir os custos do momento da empresa. 


Para levantar a grana necessária para fechar esse ciclo, recebi mais do que poderia imaginar. Amigxs deram palestra de graça, dezenas de pessoas doaram roupas e se organizaram pra fazer brechó, pessoas que tiveram suas vidas transformadas dentro daquela casa doaram dinheiro. Em 30 dias, quitamos as dívidas.


Pequenos grandes milagres acontecem quando estamos servindo a algo maior. 


Ali eu entendi sobre a força do propósito. A Casa Sou.l não era (só) uma casa que anfitriava encontros sobre sustentabilidade, empreendedorismo, autoconhecimento e educação. Isso era o que a gente fazia. O que nos movia era porque fazíamos aquilo: para criar realidades mais belas, boas e justas para os seres viventes.


E esse sonho não era só nosso. Era de muita gente.


Gente que  se organizou não só em gratidão ao que a Casa Sou.l havia proporcionado em suas vidas, mas principalmente porque o propósito da empresa cuidava de necessidades individuais e coletivas.


Por que estou te contando isso? Porque sei que você quer mover coisas lindas nesse mundo. E fica buscando o jeito mais adequado pra fazer isso. Fica focada nas formas da sua criação. Vai ser um espaço colaborativo, um livro infantil, um podcast, a regeneração de um terreno, uma consultoria, uma indústria de reciclagem, uma escola… 


Formas.


Acha que a força está na forma das coisas.


Quando fechei o espaço físico, entendi. Não era sobre a Casa Sou.l. Era sobre a realidade que ela se propunha a criar. 


E isso tinha muito mais força do que a forma que ela tinha.


É muito menos sobre o QUE criamos e muito mais sobre POR QUE criamos o que criamos. 

O PORQUÊ brota do coração, da partícula universal que habita cada um de nós, da sabedoria interna que nunca esqueceu o sentido da vida. É essa nossa maior força. É daí que manifestamos realidades.


Quem quer forma é a mente. E, mesmo que ela seja incrivelmente criadora, sua força é infinitamente menor do que a desse ponto de potência universal dentro. 


Você tem a potência de todo o Universo dentro de si. E fica fixado em criar com o poder de uma só galáxia.


Seja Universo!


Quando estamos em conexão com o PORQUÊ do coração, o O QUE vai se manifestando naturalmente. Cada passo dado em direção ao porquê vai revelando as formas mais adequadas para a manifestação do propósito. A força do propósito vai abrindo caminhos, fazendo de muros, pontes.


Eu não imaginava que daria atendimentos individuais. Não planejei isso, a vida foi me mostrando que esse era um caminho de potência de servir. Eu estava a serviço de criar um mundo mais belo, bom e justo para os seres viventes. Primeiro veio o jornalismo, depois a Casa Sou.l. Naturalmente comecei a facilitar cursos e como consequência pessoas me pediram sessões individuais, eu senti que era algo belo e respondi que sim nessa direção.


Não é sobre a forma. 


É sobre o que faz teu coração vibrar. A forma vem a serviço disso e se manifesta naturalmente, não há esforço há se fazer. A observação a se sustentar.


A criação de formas é o escoamento natural da vida. 


A vida quer que você manifeste seus dons e talentos a serviço do bem maior. Ela vai te mostrar o que fazer. Você só precisa estar atento.


Sim. Dá medo.  É um caminho de fé no escuro, que tem como lampião a certeza de que um mundo mais belo é possível.


Essa certeza é flexível pois confia no que há de ser. Não busca criar formas antes que haja movimento do vir-a-ser. Se move colada na vida, observando os movimentos que desejam emergir e oferecendo argila para as formas que se esboçam no ar abismal.


Te trago aqui algumas perguntas que podem nutrir o ponto onde você se encontra:


Qual mundo desejo criar?

Qual é o problema do mundo gostaria de ajudar a resolver?

Que questões me tocam mais profundamente?

Sobre o que acho que a humanidade precisa aprender para evoluir?


Deixa que isso tome grandeza dentro de você. Deixe suas entranhas serem tomadas por essas vontades. Ocupe seu Universo interno disso.


Converse, troque, pergunte, estude, visite.


Seja curioso.


E esteja atenta às formas que desejam nascer.


Não há nada como a força do que deseja nascer.

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