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Tem tensão na sua ação?


registro de Claudia Vargas, tirado durante um momento de liberação de tensões no Transborda em Portugal

Na semana passada quase surtei. Além de ter ido à cidade resolver (zil) coisas e ter tido dias muito atarefados e no ritmo (acelerado) da urbe, estava com foco absoluto na realização dos projetos de 2019. Mais do que foco, eu estava cega de paixão por eles.


Estava obstinada em dar "check" em todas as dezenas de afazeres que estabeleci pra mim mesma. Almoçava na frente do computador, ia dormir lendo um livro que estava me ajudando a me energizar e disciplinar para ir em frente com esses sonhos, que são importantes e grandiosos pra mim, corria escutando podcasts que me ajudavam a solucionar questões.


Se você me acompanhou no Instagram, viu que eu estava apaixonada por tudo isso. (Na página da minha bio dei destaque a minhas referências de livros e podcasts, acho que você pode curtir!)


Em uma semana, avancei mais do que teria avançado em um mês. Refiz meu site (incluindo o blog, que não existia), atualizei o Instagram, tive reuniões e mais reuniões, planejei, planilhei, organizei, escrevi, estudei. Foi, por um lado, maravilhoso. Ampliei a clareza do que fazer, tomei decisões importantes e dei passos elegantes. Acho que só esqueci de respirar e desfrutar do caminho.


Eletrizada pelo prazer que imagino que realização que desses projetos me trará, acabei por virar sua escrava.


Depois de 5 dias intensos, voltei pra casa, pisei na grama e me banhei no rio. Aos poucos, a sanidade foi voltando a me habitar. (Viva a natureza e o equilíbrio que nos proporciona!)


Como um sonho poderia ser maravilhoso e o processo de realizá-lo intolerável para meu sistema? Respirei e pedi clareza.


Percebi que a ação era um antídoto pro medo. Aterrorizada pela possibilidade de realizar algo sonhado por tanto tempo, eu entrei no fazer compulsivo. O medo era tamanho que a ideia abrir espaço para sentir me fazia fugir. Minha fuga era trabalhar.


Eu não aguentaria os meses porvir nesse ritmo. Ou o sonho não se realizaria ou se realizaria a um custo emocional e físico tão alto que eu não o celebraria.


A ação tinha, no fundo, uma motivação bem linda (em breve conto tudo pra vocês!). Ao mesmo tempo, estava encoberta pelo medo e pela obstinação (que é uma prima menos saudável do foco). Me desconectei do meu coração e escutei somente minha mente: você tem que fazer isso, tem que ser maravilhoso, você tem que ser a melhor! (Sim, isso tudo passou pela minha cabeça, que vergonha…)


O professor, palestrante e escritor com foco em temas de civilização, consciência, dinheiro e evolução cultural humana Charles Eisenstein costuma colocar dessa maneira: "A qual mestre interno você está servindo?" O seu ego ou seu eu superior?


Quantas vezes a gente se desconecta do motivo amoroso e puro que nos leva a escolher agir numa determinada direção e segue motivações menos nobres, como provar que somos capazes ou melhores, competição, ganância, inveja, manipulação, necessidade de ser adorado a qualquer custo? A ação final pode até ser a mesma: trabalhar naquele projeto, presentear uma pessoa querida, ir a academia, se mudar pro interior, pedir demissão, se casar. Mas dependendo de qual o mestre interno, o processo de realização desse sonho será bem diferente.


Outro dia atendi uma pessoa que queria se engajar em um trabalho com mais propósito. "Por quê?", perguntei. "Porque tenho que ser coerente e mudar o mundo", ela respondeu. Uau, quanto peso! Não é a toa que seu processo de transição de carreira estava sendo de sobrecarga física e mental. Ela estava obedecendo a um Deus muito presente na nossa civilização. O Deus Tutenque. Tutenque ter um trabalho que muda o mundo, Tutenque ser o melhor no que faz, Tutenque provar que é capaz, Tutenque fazer todos os cursos possíveis antes de ir pra ação, Tutenque realizar aquele projeto. Conheci essa entidade em uma facilitação que ofereci e percebi como Tutenque é onipresente e desconectado do coração, da essência, do eu superior, como você preferir chamar.


Nosso coração tem clareza, força e foco, sem obstinação nem rigidez, que são atributos da nossa mente. Percebo - em mim e nas pessoas que acompanho - a diferença gritante na leveza e fluidez de uma realização dependendo do mestre interno ao qual estamos servindo.  


A densidade energética dos desejos distorcidos (inveja, manipulação, competição) é maior e mais rígida do que a dos desejos do coração (oferecer o que de melhor temos para o mundo, evoluir, amar). Por mais desafiador que seja um projeto, se estamos agindo desde um lugar amoroso, a realização tem uma qualidade mais agradável do que se agimos de um lugar endurecido, tenso.


Conversando com minha terapeuta Glória Costa, que também é minha professora na formação de Pathwork®, aprendi que a fluidez e leveza em excesso também podem ser rígidas. "Tenho que estar em estado de desfrute o tempo inteiro" também é uma forma de obstinação, pois nada que seja acompanhado de "tenho que" e "o tempo inteiro / sempre" é flexível. Muitas vezes o excesso de fluidez vem da recusa em evoluir, da preguiça e do desejo inconsciente de depender de outros.


O exercício por aqui tem sido buscar o equilíbrio entre a espontaneidade e a disciplina, entre a confiança e prudência, o planejamento e a fluidez. Pra isso, olhar para as motivações distorcidas, a serviço do ego e me conectar com as motivações mais profundas, a serviço do amor que sou.


Vamos combinar entre nós que da próxima vez que estivermos agindo em direção a algo que faz muito sentido pra gente e sentirmos uma rigidez, uma tensão, vamos nos perguntar:

Qual minha motivação real em seguir fazendo o que estou fazendo?


E, se você me ver fazendo diferente disso, me sinaliza?


Te agradeço!


Com carinho e (agora) em leveza,

Carol

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