As transições são estreitas e desconfortáveis. Ainda que sem segurança do que nos espera, algo em nós anuncia que é chegada a hora de seguir.
A primeira transição é o nascimento. Um instinto nos diz que é hora, e, mesmo sem ter nenhuma garantia de que chegaremos bem do lado de lá e sem conhecer o que nos espera, confiamos nessa força e vamos. Um canal estreito e desconfortável nos dá passagem.
Encaramos a morte de um mundo para adentrarmos outro.
Largar mão das garantias para transicionar.
Confiar no processo evolutivo para transicionar.
O nascimento é um grande rito de passagem, como toda transição. Como nem toda transição, é celebrado. Celebrar e ritualizar transições traz leveza, alegria e beleza para esses momentos de estreiteza. Sem marcar ritos de passagem, fica difícil demais escolher transicionar. Ritualizamos nascimentos, mortes, casamentos, mudanças de casa. Deixamos de celebrar menarcas - a primeira menstruação, a transição do menino que vira homem, separações, escolhas profissionais, projetos que deixam de existir, pedidos de demissão.
Todo rito de passagem é um processo de vida-morte-vida. Algo há de morrer para nos permitirmos transicionar. E algo nasce quando o fazemos.
Precisamos reconhecer a vida presente nas transições. Para escolher passar pela passagem estreita da transição com alegria de cruzar a fronteira do conhecido, é necessário ritualizar.
O Transborda é um rito. É se despedir da margem que está ficando para trás e dar as boas vindas para o que desponta no horizonte. É reconhecer a força e a beleza de escolher atravessar. É receber apoio de quem está passando por canais estreitos. É dar as mãos para, mesmo sem garantias no porvir, fazer dessa travessia um ato de cuidado e auto-amor. É reconhecer que a transição individual é uma parte da transição planetária pela qual estamos passando e se responsabilizar por chegarmos juntos a uma outra margem mais segura.
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