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Desapegando e agroflorestando-se


Esse não é um texto sobre agricultura. Por mais que seja. É um texto sobre você.

Semana passada podei o manjericão aqui de casa. Meio a contragosto, mas confiei em quem me disse que ele ficaria mais forte depois disso. Ontem começaram a nascer mais dois ramos. O mesmo aconteceu com o tomateiro da casa da minha mãe. Foi só meter a tesoura sem dó que ele prosperou (até demais, segundo ela). O desapego trouxe força de crescimento. Eu noto que comigo acontece o mesmo.


Essa sabedoria é da Terra, mas quem sistematizou-a na Agricultura Sintrópica (ou agrofloresta) foi Ernst Götsch, um agricultor e pesquisador suíço que migrou para o Brasil no começo da década de 80 e se estabeleceu em uma fazenda na zona cacaueira do sul da Bahia. Há 30 anos, quando ele fincou os pés por lá, o terreno era de terra improdutiva, quase seca. Hoje, é uma floresta com alta produtividade, que vende um dos cacaus mais renomados do mundo. São 410 hectares de área reflorestada, dos quais 350 foram transformados em RPPN, além de 120 hectares de Reserva Legal. A fauna repopulou o lugar e cerca de 14 nascentes ressurgiram na fazenda. Sim, ressurgiram.


A agrofloresta traz a possibilidade de uma produtividade sustentável e ecologicamente correta com a terra integrando árvores, plantas e animais em sistemas de produção natural de vida longa. Mais que sustentar a vida, a agrofloresta regenera a vida.


A poda periódica é um dos princípios básicos desse tipo de manejo. Ela tem algumas funções:

Fechar e iniciar novos ciclos (ao abrir uma clareira e plantar uma nova floresta para favorecer processos de vida);

Fortalecer as espécies em crescimento e fazer com que não desperdicem energia, na poda constante, que acontece diariamente;

Fornecer alimento e espécies medicinais;

Favorecer e escolher as espécies que estão em equilíbrio no sistema;

Fornecer biomassa pro solo. Ou seja, colocar matéria orgânica no solo para produzir terra, fornecer nutrientes, proteger o solo do trabalho da chuva e reter umidade.


Tá, mas porque estou falando tanto de agrofloresta e a importância da poda? Não, não é (só) porque estou empenhada na minha horta caseira. É porque estou vivendo o poder da poda na minha vida pessoal:


Fechando um ciclo e abrindo outro,

Buscando não desperdiçar energia com o que não me alimenta (no corpo físico, emocional, mental e espiritual);

Favorecendo e escolhendo as ações que estão equilibradas no sistema ao cortar o que não está em equilíbrio.


Do ano passado pra cá, me desfiz de 35% da minha renda. Podei projetos que já não faziam sentido pra mim, na confiança de que isso me traria força e foco no que faz sentido.


(O retorno de Saturno faz isso com as pessoas, se você já passou pela fase de 28 a 30 anos, sabe o que estou falando, se não, prepare-se para fortes — e evolutivas — transformações!)


Desapegar deu medo, insegurança, desconfiança, mas algo em mim me dizia que era a coisa certa a se fazer. E, como a intuição nunca me deixou na mão, pedi demissão das escolas onde dava aula e me desapeguei também do Empreenda a Si Mesmo, que co-facilitei por um ano e que hoje segue com o Vini. Eram frentes que me davam satisfação e traziam transformação real na vida das pessoas, mas estava claro internamente: era hora de dar tchau. Com uma certeza irracional e absoluta da decisão, assim foi.


O ano começou provando que a intuição era certeira. Com menos esforço, estou tendo mais prazer e resultados, tanto de impacto efetivo na vida das pessoas quanto de satisfação no trabalho e remuneração. Estou focada nos atendimentos individuais de facilitação em alinhamento vocacional e no Salto e no Semente, cursos da Casa Sou.l. Magicamente, faço menos ao mesmo tempo em que dou e recebo mais. Podei para regenerar a vida em mim mesma. Assim como no manejo agroflorestal, estou deixando a vida cuidar da vida e só facilitando esse processo em mim mesma, ao estar atenta ao que a vida interna diz.


Ficam aqui duas perguntas pra sua vida interna:


Onde você tem um balanço energético negativo (ou seja, algo que te tira mais do que te dá)?


O que você pode cortar da sua vida para viver sua máxima potência?


Seja isso um projeto, um hábito, uma pessoa, uma fonte de renda, um vício, um emprego, um padrão de comportamento, tesoura neles. Com calma, respeitando o tempo da vida, mas sem apego nem medo. O manjericão, o tomateiro, a agrofloresta do Ernst e eu estamos vivendo isso. Aposto que você já passou por um momento difícil de desapego que acabou por possibilitar que você manifestasse sua potência. Lembra disso e tesoura neles!


Pros interessados em agroflorestar: a agrofloresta não é algo exclusivo das zonas rurais. Dá pra agroflorestar aqui mesmo, na cidade. A CARPE oferece, entre várias outras coisas (como gestão de resíduos e eficiência energética), a produção de Jardins Agroflorestais ou Hortas Orgânicas Sucessionais. Foram eles quem fizeram a composteira aqui de casa e me esclareceram algumas coisas pra esse post. ❤


(escrito em fevereiro de 2016)

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