A tal da maternidade real. Escancarada assim, com leite vazado, cabelo vomitado, dente não escovado. E ainda assim, (às vezes,) sorriso de olheira a olheira.
Pra quê escancarar a realidade assim, tão crua?
Tenho sentido os relatos como pedidos de ajuda disfarçados. Porque, por algum motivo - alô, patriarcado! - nós, mães, estamos no fim da fila dos cuidados e não nos sentimos merecedoras de receber o apoio que precisamos. “Não estamos fazendo mais do que nossa obrigação” - num sistema que abandona quem tem “a obrigação” de cuidar.
- tenta despertar 15 vezes numa noite pra acolher criança e seguir o dia como se nada fosse -
- agora tenta fazer isso por meses a fio e seguir o baile do manter a casa saudável e o emprego estável -
Me parece que os relatos de maternidade real são uma forma torta que encontramos de dizer “tá foda, me cuida?”.
E seguimos olhando pra essas mães que tem coragem de dar a letra como servidoras. Além de servirem bebê (e marido-que-segue-sendo-um-bebê), agora servem a outras pessoas que precisam saber como é a realidade de uma mãe.
Amiga, é só observar as ene coisas que essa mulher tá fazendo no mesmo minuto. Carrega criança chorosa nas ancas enquanto prepara almoço ao mesmo tempo em que responde áudio do trabalho no WhatsApp.
Você não precisa escutar dessa mãe o que é maternidade real. Você precisa olhar pra essa mãe. Ela não está aqui pra te servir a saber o que te espera caso você venha a maternar. Você está aqui pra servir a ela porque - repito - ela está servindo o futuro do planeta.
Da próxima vez que você ver uma mãe, além de segurar as bolsas, esquentar o almoço, lavar a louça e varrer a casa, pergunte, genuinamente, como ela está. Não pra alimentar sua curiosidade, mas pra afagar essa mulher que está desnutrida de tempo pra si. Lava esses pés cansados num escalda pés gostoso, nutre essas papilas gustativas com uma sobremesa delícia. Tenha coragem de encarar a desnutrição dessa nutriz. E nutre.
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