Há alguns dias fui num evento com centenas de pessoas e algo estranho no ar. Me senti na corte de Dom Pedro, rodeada de gente que não era bem aquilo que estava se mostrando ser. Tinha uma etiqueta específica para dançar, falar, caminhar. Era como se a verdade fosse perigosa e a mentira socialmente aceita. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ Não sei dizer como eu sabia que era isso que estava acontecendo. Foi mais uma sensação do que um fato. Talvez, por estar vivendo há anos cada vez mais entre pessoas que correm o risco de serem quem genuinamente são, meu faro pra "mentira social" ficou mais apurado. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ Não durei muito no evento. Mas fiquei pensando… o quão diferente sou disso que critiquei? Será que realmente abri mão de ser o que acho que o outro gostaria que eu fosse? ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ Caio no mesmo buraco, mas em vez de estar de salto alto estou de pés descalços. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ Mas ainda tenho vergonha de assumir que adoro fazer musculação escutando Anitta, que amo estar maquiada. Que choro vendo comédias românticas e adormeço nos documentários, sonho com a família perfeita, sinto raiva quando as pessoas não fazem as coisas no meu tempo. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ Tenho tantas idealizações de como minha vida deveria ser que fico fazendo força pra que ela vá para um lado (mais mágico, coerente, cheio de fadas e unicórnios) quando está claro que ela precisa ir para outro (mais cheio de asfalto, idiossincrasias, planilhas e praticidade). Fico tão presa no que eu acho que o outro acha que eu deveria ser que me desconecto de quem sou e consequentemente a vida fica menos fluida. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ Iguaizinhos na corte do Dom Pedro e no tal evento. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ Precisar mentir sobre quem somos para sermos aceitos é uma prisão. E estamos todos nela, em maior ou menor grau. Onde há mentira, há tensão. Onde há tensão, não há fluidez, não há criação. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ No dia da mentira, largue o ideal de quem você gostaria de ser e seja você, verdadeira, com espinhas ou com maquiagem.