Ela vem acoplada de um peito.
Atrás desse peito tem eu-nutriz.
Agradecida por termos sofá, poltrona, cadeira, cama, sol, sombra. Variar lugares faz do dia mais vivo.
Tudo se repete.
Qual peito tá cheio? Ordenha, namora o mamilo, encaixa a boca. Tá fechada demais, tá doendo, tenta abrir ajustando o queixo com a mão. Enfia o dedo mindinho pra tirar o vácuo e não urrar de dor quando a boca sai. Começa de novo. Ela não pega, tá escorregando. Seca o mamilo. Não foi. Respiro eu e ela. Acalmamos, bora de novo. Pegou. Ajusta. Pega almofada, enfia debaixo do braço até tirar tensão do ombro. Fica, puxa, abre os olhos, fecha, mexe as pernas, relaxa as mãos, adormece. Acorda, adormece. Se afoga em leite e tosse. Tira do peito, verticaliza, bota de novo. Chupa, chupa, chupa. Reclama. É fralda? É arroto. Verticaliza, arrota. Recebe beijos. Reclama, peito de novo. E de novo e de novo.
Umas 8 vezes por dia. Na sala, na poltrona, no quarto, no sofá, na varanda, na cama. Dia e noite.
Amamentar é natural, não banal e demanda uma alma escancarada.
Lambe, mama, chupa, aperta, fluidifica, encaixa.
É sexual essa relação, não podemos mais negar. Nasceu do sexo e segue nele. Haja centramento pra não entrar na culpa de sentir prazer físico com a filha chupando peito.
Fusão. Não sei onde termino eu onde começa ela.
Outro dia olhei pro mamilo e vi o rosto da filha. Ela estava com o pai.
Outra vez quis apertar o peito e apertei bochecha. Já não sei o que é o quê, quem é quem.
Ver dobrinhas começando a despontar. Eu perco peso, ela ganha. Acaricio a barriga mole e agradeço pela perfeição da natureza.
Os olhos ainda erráticos encontrando os meus.
A mãozinha apoiada no seio.
Cada espaço desse corpinho que nós fizemos junto do mistério.
Nariz, boca, sovaco, cílios que crescem a cada dia. Orelha, nuca, unha do pé, bigo. Tudo feito das nossas melhores partes.
Gestando, temi não ser capaz de amar. Te vejo entregue no meu colo e não cabe no coração. Peito jorra amor líquido. Olheiras transbordam lágrimas de amor.
Comments