Quatro meses de um arrombo psíquico, com um pacotinho sorridente e demandante no colo. Com o sono pouco e picotado, o corpo com limites irreconhecíveis sendo sugado. Eu estaria voltando ao trabalho por agora se não fosse autônoma. Ainda é difícil me imaginar atuando pra além da díade mãe-bebê.
A potência de meu trabalho reside/residiu no reflexo de quem sou. (Não sei se escrevo isso no presente ou no passado.) E agora, que não sei quem sou?
O que tenho pra ofertar ao mundo além do trabalho hercúleo de maternar? Aliás, qual arquétipo feminino é similar a Hércules?
Já mudei o rumo do meu trabalho algumas boas vezes e já não tenho medo de fazê-lo. Conheço as armadilhas do caminho, os atalhos ladrões de aprendizado, as redes de segurança necessárias, as estrelas-guia, as sensações reveladoras de Norte, as experimentações necessárias.
Estou uma mulher recém mãe em pausa atenta na dança da vida. Reconheço o privilégio. Nasci com ele e construi uma vida em que posso tirar esse tempo para ser observante dos micro movimentos em mim e acompanhar o vir a ser daquilo que se move dentro enquanto faço o trabalho mais sagrado e menos reconhecido da existência: apoiar a chegada de uma nova vida. Sinto ser minha responsabilidade socioambiental dar meu melhor com o privilégio que herdei.
Por hora, não sei sobre o servir que pedirá para nascer de mim na construção de um futuro mais desejável. E não canso de repetir: o maternar é o maior e potencialmente mais regenerativo trabalho que conheci. “Só“ isso já seria muito suficiente.
Confio, mais do que nunca, na minha capacidade de sonhar, gestar, gerar, parir e cuidar do que for em comunhão com a Grande Natureza.
E desfruto do caminho, que o sorriso banguela da minha filha é só agora.
Comments