Era julho ou agosto de 2011, eu dirigia do norte ao sul daquele país pequeno e intenso num carro emprestado, agradecendo as transliterações de cada placa. Eu rumava ao Egito, saindo de Israel. Fazia o caminho inverso de meus ancestrais. Foram 5 horas de vento nos cabelos e liberdades. Sinto falta dessa blusa. Quando o deserto chegou, no toca disco, uma mesma música, por horas. Wish you were here. Eu cantava, ria e lagrimava. Já não era necessário desejar que ninguém estivesse lá. Eu havia chegado a mim mesma. Não me perderia mais nessa estrada. Olho essa foto e reconheço minha força, firme, solta e selvagem. Sinto falta dessa eu. Respiro e reconheço, ela segue aqui. Amanhã vou pegar estrada ao som dessa música, me prometo. De janela aberta, pra soprar uma faceta que o tempo empoeirou. Agradeço pela textura do volante, pela secura do ar, pelas memórias corporificadas. Abro espaço no peito pra viver ainda mais eu. Uma estrada nunca é só uma estrada. Em poucos dias retorno pela primeira vez ao país em que morei depois dessa foto, uma ilha onde me escancarei pra mim mesma, sem passagem de volta pra quem já fui. Vou me reencontrar com quem sigo sendo, cada dia mais. Pegar estradas, subir vulcões, abraçar amores, desfrutar dos novos lugares dentro. Memórias são templos de emoções.
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